Um novo estudo sobre a matriz energética global da mineração de Bitcoin revelou que o gás natural ultrapassou o carvão e se tornou a principal fonte de energia utilizada pela rede Bitcoin. A descoberta contraria a ideia popular de que a mineração depende majoritariamente de combustíveis altamente poluentes, ao mesmo tempo em que reaquece o debate sobre a sustentabilidade ambiental do setor.
Segundo dados publicados pelo Cambridge Centre for Alternative Finance, 30,6% da energia consumida pela rede Bitcoin em 2023 teve origem em gás natural — superando os 22,3% provenientes do carvão e os 19,5% de energia hidrelétrica.
A nova matriz da mineração de BTC
A distribuição da energia usada na mineração em 2023 ficou assim:
- Gás natural: 30,6%
- Carvão: 22,3%
- Hidrelétrica: 19,5%
- Nuclear: 8,5%
- Solar e eólica: 2,7% cada
Embora o uso de fontes fósseis continue predominante, a presença da energia hidrelétrica e a ascensão das renováveis mostram que há uma transição gradual em curso — especialmente em países que oferecem incentivos à energia limpa.
Por que o gás natural lidera?
O gás natural, embora ainda seja um combustível fóssil, emite menos carbono do que o carvão e pode ser aproveitado em regiões remotas onde seu desperdício seria comum, como em campos de petróleo. A mineração de Bitcoin, nesses casos, funciona como uma solução para monetizar o gás que seria queimado à toa (flaring).
Essa abordagem, defendida por alguns mineradores como ambientalmente benéfica, ainda é controversa. Ambientalistas alertam que, embora mais limpo que o carvão, o gás natural continua contribuindo com emissões de gases de efeito estufa — e que o foco deveria estar em ampliar o uso de fontes renováveis e neutras em carbono.
Tendência futura: descentralização e energia renovável?
O estudo também destaca que os mineradores estão cada vez mais adotando soluções híbridas e buscando energia mais barata e sustentável. Isso se deve à crescente pressão por parte de investidores institucionais, reguladores e do próprio mercado cripto, que enxerga a questão ambiental como fator de reputação e viabilidade no longo prazo.
Empresas como Marathon Digital, Iris Energy e Genesis Digital Assets têm liderado iniciativas para usar energia solar, eólica e hidrelétrica em suas operações. No Brasil, projetos-piloto com energia de biomassa e solar para mineração também começam a ganhar espaço.
Conclusão
O domínio do gás natural como principal fonte de energia na mineração de Bitcoin revela um setor em transição. Embora ainda dependente de combustíveis fósseis, o mercado caminha em direção a modelos mais sustentáveis — impulsionado por regulação, inovação e responsabilidade ambiental.
Se a mineração quiser manter sua legitimidade global, o próximo passo será ampliar o uso de fontes 100% renováveis e provar que é possível aliar segurança de rede, eficiência energética e compromisso ambiental.