A blockchain pode abrir caminho para um sistema mais ágil, inclusivo e transparente, mas o avanço regulatório será decisivo.
O mercado financeiro brasileiro está prestes a passar por uma transformação silenciosa, mas profunda. A tokenização de ativos — tecnologia que converte bens e direitos em representações digitais registradas em blockchain — desponta como alternativa capaz de reduzir burocracias históricas, ampliar o acesso ao crédito e injetar liquidez em setores tradicionalmente travados pela lentidão e pelos custos elevados.
No entanto, especialistas alertam: sem um arcabouço regulatório sólido e atualizado, a revolução pode esbarrar na insegurança jurídica e perder força antes mesmo de se consolidar.
O que é tokenização e por que pode mudar o crédito
Na prática, a tokenização transforma ativos físicos ou financeiros — como imóveis, contratos de aluguel ou recebíveis — em tokens digitais que podem ser fracionados e negociados em blockchain. Esse processo permite que ativos ilíquidos sejam divididos em pequenas partes digitais, cada uma representando uma fração do bem original.
Com isso, o crédito deixa de depender apenas de grandes instituições financeiras. Empresas de menor porte e até indivíduos podem securitizar suas dívidas e captar recursos de forma mais ágil, transparente e com custos menores. Além disso, investidores ganham acesso a mercados antes restritos, diversificando carteiras com frações de imóveis ou direitos de pagamento.
O desafio brasileiro: inovação versus regulação
O interesse pela tokenização cresce no Brasil, com projetos-piloto em diferentes setores. O Banco Central já abriu consultas públicas e conduz discussões para compreender como inserir essa inovação no arcabouço legal existente.
Segundo reportagem do InfoMoney, o potencial da tokenização para impulsionar o crédito é enorme, mas ainda depende de clareza regulatória. Sem normas específicas, emissores de tokens e investidores permanecem expostos a riscos jurídicos, o que pode frear a expansão do setor.
Questões como a definição legal de um token, a responsabilidade em caso de falhas, a proteção do consumidor e o combate à lavagem de dinheiro precisam ser endereçadas. Experiências internacionais, como a da Suíça e de Liechtenstein, já servem de exemplo, mostrando como a criação de legislações específicas pode acelerar a adoção da tecnologia.
Setores mais impactados
O setor imobiliário é um dos que mais pode se beneficiar. A tokenização de imóveis possibilita que pequenos investidores adquiram frações de grandes empreendimentos, democratizando o acesso ao mercado e aumentando a liquidez.
Já para empresas, a emissão de tokens lastreados em recebíveis pode se tornar uma alternativa mais barata e eficiente do que empréstimos bancários tradicionais. Outra frente promissora é a integração com as Finanças Descentralizadas (DeFi), que abre espaço para empréstimos peer-to-peer garantidos por ativos tokenizados.
Perspectivas
O futuro do crédito no Brasil tende a ser cada vez mais digital e descentralizado. A tokenização, integrada ao ecossistema Web3, tem potencial para criar um sistema financeiro mais inclusivo e transparente.
Para os investidores, representa novas oportunidades de diversificação; para as empresas, mais opções de financiamento; e para a economia, um impulso de liquidez em setores que ainda enfrentam barreiras de acesso.
O ponto decisivo será a velocidade com que a regulação avançará. Caso consiga acompanhar o ritmo da inovação, o Brasil pode se consolidar como um dos protagonistas globais nessa transformação.
Referências
- InfoMoney. Tokenização pode impulsionar crédito no Brasil, mas depende de avanço regulatório. Disponível em: InfoMoney
- Banco Central do Brasil. Tomada de subsídios sobre Tokenização. Disponível em: BCB