O mercado brasileiro de criptoativos registrou uma mudança significativa no último mês: pela primeira vez em larga escala, a stablecoin Tether (USDT) superou o Bitcoin (BTC) em volume de negociação, tornando-se o ativo digital mais negociado do país. Em novembro, o USDT movimentou R$ 10,2 bilhões, equivalente a mais de 60% dos R$ 16,7 bilhões transacionados no período. O dado, embora pareça apenas técnico, revela uma transformação profunda no comportamento do investidor brasileiro.
Dólar blockchain como porto seguro
A corrida para o USDT não foi obra do acaso. Novembro foi marcado por forte volatilidade nos criptoativos e por expectativas tensas em torno das decisões monetárias dos Estados Unidos, especialmente do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC). Diante desse cenário, investidores brasileiros migraram para a estabilidade cambial oferecida pela stablecoin pareada ao dólar.
O USDT combina liquidez, velocidade de movimentação e estabilidade, funcionando como uma espécie de “estacionamento digital” para o capital que aguarda melhores oportunidades de entrada em ativos mais voláteis. Em um mês de incertezas, ele se consolidou como uma ferramenta de hedge e proteção.
A tabela da dolarização: USDT x Bitcoin
A diferença de volume entre os dois ativos é expressiva e ajuda a explicar o momento do mercado:
Criptoativo | Volume (novembro) | Participação
USDT | R$ 10,2 bilhões | ~61%
Bitcoin | R$ 4,9 bilhões | ~29%
Outros | R$ 1,6 bilhão | ~10%
Fonte: dados compilados do mercado brasileiro de criptoativos
Esse comportamento indica uma mudança no uso da stablecoin: ela deixou de ser apenas um ativo de transição para se tornar, efetivamente, um instrumento de gestão de risco. No Brasil, onde oscilações do real são frequentes, a possibilidade de dolarizar o patrimônio de forma instantânea e com baixos custos tem se mostrado um diferencial competitivo.
Regulação do BC: o fator que pode redesenhar o jogo
A escalada do USDT no país também ganha contornos regulatórios. A Resolução nº 521 do Banco Central, que entrará em vigor em fevereiro de 2026, estabelece novas regras para operações de câmbio e pode ter impacto indireto sobre o uso de stablecoins para remessas internacionais.
Embora a norma não trate especificamente do USDT, a eventual incidência de IOF sobre operações envolvendo criptos lastreadas em moedas estrangeiras acende um alerta. A prática comum de comprar USDT no Brasil para enviar capital a exchanges externas pode exigir reavaliação fiscal a partir do próximo ano.
Especialistas do setor reforçam:
“A popularidade do USDT no Brasil se explica pela liquidez e pela simplicidade operacional. Ele é usado em arbitragem, pagamentos e, sobretudo, como ferramenta de dolarização de pequenos e médios capitais.”
O USDT como porta de entrada da Web3 no Brasil
A liderança do USDT no volume negociado também evidencia a maturidade crescente do ecossistema Web3 no país. A tecnologia blockchain está sendo utilizada para resolver problemas práticos, como proteção contra inflação, volatilidade do real e gestão de liquidez — e não apenas para aplicações de DeFi ou NFTs.
O USDT funciona como a moeda de reserva do investidor cripto brasileiro. Ao manter poder de compra atrelado ao dólar, ele facilita movimentações entre projetos, preserva valor e elimina fricções bancárias tradicionais. É um indicativo de que o investidor nacional está cada vez mais sofisticado, adotando estratégias ativas de gestão.
Conclusão: a nova lógica da dolarização digital
O avanço do USDT no Brasil revela mais do que uma tendência momentânea. Ele mostra que o investidor brasileiro está incorporando práticas globais de gestão de risco e utilizando o dólar digital como instrumento central de sua estratégia.
Com a chegada do novo arcabouço regulatório do Banco Central e a evolução do mercado de stablecoins, acompanhar essa dinâmica será fundamental para quem deseja manter competitividade na economia digital. O USDT, ao que tudo indica, deixou de ser apenas uma ponte entre criptoativos — e passou a ser um destino estratégico.
