Após abandonar a arquitetura em blockchain e rever o cronograma, o Banco Central promete uma nova infraestrutura para tornar o Drex mais seguro, compatível com o sistema financeiro e pronto para aplicações reais
O Drex, projeto que visa criar o real digital brasileiro, entrou em uma nova fase. O Banco Central decidiu encerrar a infraestrutura baseada em tecnologia de registro distribuído e iniciar um redesenho completo da iniciativa. A mudança inclui o adiamento do lançamento para 2026, sem uma data definida, mas com a promessa de uma abordagem mais segura, estável e alinhada ao funcionamento interno do sistema financeiro nacional.
Nos últimos meses, aumentou a cobrança por definições claras sobre o futuro do Drex. Em uma reunião interna realizada em novembro de 2025, o Banco Central comunicou às instituições participantes que a plataforma experimental construída com blockchain seria desativada. O motivo envolve custos elevados, dificuldades de garantir privacidade em ambiente distribuído e riscos de incompatibilidade com os padrões técnicos exigidos pelo regulador.
A decisão representa um recuo em relação ao plano original, que pretendia transformar o real digital em uma infraestrutura ampla para contratos inteligentes, tokenização de ativos, novos modelos de crédito e soluções avançadas de pagamentos. A ambição inicial era ousada e colocava o Drex na vanguarda global das moedas digitais de banco central. Agora, o projeto passa por um redesenho que prioriza confiabilidade e integração com as instituições financeiras existentes.
Com essa reorientação, o Banco Central também revisou o cronograma de lançamento. A nova previsão é que o Drex chegue ao mercado apenas em 2026, em uma versão mais restrita. O sistema deixa de lado o uso de blockchain, não terá carteira direta para o cidadão nesse primeiro momento e será utilizado exclusivamente por instituições autorizadas. O objetivo é testar a infraestrutura em ambiente controlado, reduzindo riscos operacionais e regulatórios.
O que muda e o que permanece no projeto
O Drex continua sendo uma moeda digital emitida pelo Banco Central, com paridade integral com o real físico. Ou seja, não se trata de uma criptomoeda tradicional, mas de uma CBDC operada sob regras rígidas de emissão e circulação.
O Banco Central reforçou que o projeto continuará obedecendo ao sigilo bancário e às legislações de proteção de dados, como a LGPD. A saída da blockchain ocorre principalmente pela dificuldade técnica de assegurar privacidade ao usuário final sem comprometer a capacidade de supervisão e rastreabilidade necessária ao regulador.
O público-alvo inicial também mudou. No lugar da visão de inclusão ampla para pessoas físicas e empresas, o Drex de 2026 será adotado primeiro por bancos e outras instituições financeiras autorizadas. O acesso direto pelo cidadão deve ocorrer apenas em fases posteriores, ainda sem previsão oficial.
Os casos de uso permanecem semelhantes aos planejados originalmente, mas agora com expectativa mais moderada. A moeda digital seguirá voltada a operações de liquidação, reconciliação de garantias, contratos inteligentes para crédito e tokenização de ativos. O ritmo, porém, será menos acelerado do que se imaginava nos primeiros anúncios.
Por que a mudança não aponta para o fim do Drex
Apesar do recuo, o projeto segue sendo tratado como peça estratégica para o futuro do sistema financeiro nacional. Uma moeda digital de banco central pode reduzir custos de liquidação, aumentar a eficiência das transações bancárias e agilizar processos que hoje dependem de etapas fragmentadas, como registro de garantias e tokenização de imóveis, veículos e recebíveis.
Para investidores, fintechs e bancos, a reestruturação abre uma janela importante até 2026. Esse período pode ser usado para ajustar modelos de negócios, avaliar impactos e planejar integrações. Empresas que trabalham com tokenização, por exemplo, terão mais tempo para adequar seus sistemas ao novo desenho do Drex e acompanhar a regulamentação que deve se consolidar junto ao avanço do projeto.
Os riscos e as razões por trás da cautela
O desligamento da versão em blockchain expõe os desafios de conciliar a inovação tecnológica da rede distribuída com as exigências de segurança, privacidade e supervisão do ambiente financeiro regulado. A nova infraestrutura terá de provar que consegue lidar com escalabilidade, manter o sigilo necessário e, ao mesmo tempo, ser robusta o suficiente para suportar operações críticas do mercado.
Outro ponto é a adoção. Sem um ecossistema maduro e participação ativa de bancos, empresas e fintechs, o Drex pode levar anos para ganhar relevância e dificilmente substituirá métodos tradicionais de pagamento no curto prazo.
O que acompanhar até 2026
Quem monitora o avanço do Drex deve ficar atento a quatro elementos principais:
• Anúncios oficiais do Banco Central com o novo cronograma, a arquitetura técnica escolhida e o plano de implementação.
• Regulamentações que darão suporte à moeda digital, especialmente no campo da proteção de dados e do compliance financeiro.
• Engajamento de bancos, fintechs e outras instituições no desenvolvimento da infraestrutura.
• Testes práticos envolvendo contratos inteligentes, liquidação de ativos tokenizados e operações de crédito com garantias digitais.
O Drex inicia agora uma fase menos ambiciosa, porém mais pragmática. A pergunta que resta é se a estratégia revisada será suficiente para transformar o real digital em uma ferramenta relevante e segura, capaz de impulsionar a próxima geração de serviços financeiros no Brasil.
