Sentença nos Estados Unidos encerra a saga do colapso de US$ 40 bilhões do ecossistema Terra/Luna e reforça a responsabilização no mercado Web3
O veredito final sobre o colapso de aproximadamente US$ 40 bilhões do ecossistema Terra/Luna foi proferido com impacto sísmico para o mercado cripto global. Do Kwon, cofundador da Terraform Labs, foi condenado a 15 anos de prisão nos Estados Unidos por seu papel central na fraude que levou à implosão da stablecoin TerraUSD (UST) e do token LUNA, em maio de 2022.
A sentença encerra uma das maiores crises da história das criptomoedas e vai além da punição individual de um ex-foragido internacional. Trata-se de um marco regulatório com repercussões globais, que redefine os limites de responsabilidade, transparência e governança no universo Web3.
Uma “fraude épica e geracional”
Durante o julgamento, promotores classificaram o caso como uma “fraude épica e geracional”, em razão da escala dos prejuízos e do número de investidores afetados ao redor do mundo. Do Kwon foi condenado por conspiração para cometer fraude e fraude eletrônica, encerrando o debate sobre a natureza do colapso do projeto.
Segundo a acusação, não se tratou de uma simples falha de mercado ou de um experimento tecnológico que deu errado, mas de um esquema deliberado que induziu investidores ao erro ao sustentar promessas de estabilidade e segurança que não correspondiam à realidade.
Para o investidor brasileiro, que frequentemente utiliza stablecoins como forma de proteção cambial e exposição ao dólar, o caso Terra/Luna tornou-se o símbolo máximo dos riscos associados a projetos pouco transparentes e sem supervisão regulatória adequada.
A anatomia do colapso e o efeito dominó no mercado
O ecossistema Terra foi construído em torno de uma proposta ambiciosa: uma stablecoin algorítmica, a UST, que manteria paridade com o dólar por meio de um mecanismo de queima e emissão de tokens LUNA. A Terraform Labs e seu fundador garantiam a robustez do modelo, o que atraiu bilhões de dólares em capital institucional e de varejo.
Em maio de 2022, porém, o sistema entrou em colapso. A UST perdeu sua paridade com o dólar e o token LUNA teve seu valor praticamente zerado em questão de dias, eliminando economias de investidores em todo o mundo.
O impacto não se limitou ao projeto Terra. O colapso desencadeou um efeito dominó que contribuiu para a falência de grandes players do setor, como o fundo Three Arrows Capital e a plataforma de empréstimos Celsius, expondo a fragilidade e a interconexão do mercado cripto naquele momento.
| Ativo | Função original | Desfecho do colapso |
|---|---|---|
| TerraUSD (UST) | Stablecoin algorítmica pareada ao dólar | Perda da paridade e colapso total |
| LUNA | Token de governança e estabilização da UST | Valor reduzido praticamente a zero |
Impacto regulatório no Brasil e no cenário internacional
A condenação de Do Kwon atua como um catalisador para ações regulatórias em diversas jurisdições. Nos Estados Unidos, o caso fortalece a postura da Securities and Exchange Commission (SEC), que defende a classificação de muitos criptoativos como valores mobiliários não registrados, sujeitos às mesmas regras do mercado financeiro tradicional.
No Brasil, o colapso do Terra/Luna foi um dos episódios que aceleraram o debate regulatório e contribuíram para a aprovação do Marco Legal das Criptomoedas (Lei nº 14.478/2022), posteriormente regulamentado pelo Banco Central. A nova legislação estabelece regras para as Prestadoras de Serviços de Ativos Virtuais (PSAVs), com foco em transparência, segregação patrimonial, governança e compliance.
O objetivo é justamente reduzir a probabilidade de fraudes sistêmicas e proteger o investidor, criando um ambiente mais seguro e previsível para o desenvolvimento do setor cripto no país.
A principal lição para o investidor Web3
O caso Do Kwon deixa uma mensagem clara ao mercado: inovação tecnológica não substitui responsabilidade, diligência e gestão de riscos. Promessas de rendimentos elevados e “estabilidade garantida” devem ser analisadas com extremo ceticismo, especialmente em um mercado reconhecidamente volátil.
A sentença de 15 anos de prisão representa um forte desincentivo a práticas fraudulentas e um sinal inequívoco de que autoridades globais estão dispostas a agir. Ao mesmo tempo, não deve ser interpretada como um freio à inovação, mas como um passo necessário para reconstruir a confiança no ecossistema Web3.
A condenação de Do Kwon marca o fim simbólico da era do “Velho Oeste” das criptomoedas e o início de um novo ciclo, no qual crescimento e inovação caminham lado a lado com fiscalização, responsabilidade e proteção ao investidor.
