As stablecoins, criptomoedas projetadas para manter um valor estável em relação a ativos de referência como o dólar americano, estão se consolidando como pilares da convergência entre o sistema financeiro tradicional (TradFi) e o universo cripto. Relatórios recentes — como o do Standard Chartered — apontam que essas moedas digitais podem atrair trilhões de dólares dos bancos de economias emergentes nos próximos três anos, redesenhando a dinâmica do capital global e o funcionamento das instituições financeiras.
Para o investidor brasileiro, compreender essa intersecção é essencial para antecipar tendências e posicionar seu portfólio em um cenário financeiro que evolui rapidamente.
O poder de atração das stablecoins em mercados emergentes
O interesse por stablecoins em países emergentes, incluindo o Brasil, tem múltiplas causas. Em economias marcadas pela inflação elevada e volatilidade cambial, as stablecoins atreladas a moedas fortes, como o dólar, oferecem proteção contra a desvalorização da moeda local. Elas também facilitam transações internacionais, permitem o acesso a mercados globais e reduzem custos operacionais.
O relatório do Standard Chartered estima que as stablecoins poderão retirar cerca de US$ 1 trilhão dos bancos em países emergentes até 2027. A previsão reflete uma preferência crescente por ativos digitais que unem a estabilidade das moedas fiduciárias à eficiência e transparência da blockchain.
No Brasil, o uso de stablecoins cresce de forma exponencial, respondendo por grande parte das transações cripto no país. Paralelamente, a discussão sobre regulamentação das stablecoins ganha força entre autoridades e o setor financeiro.
Tokenização e a revolução dos pagamentos
Além de funcionarem como reserva de valor, as stablecoins impulsionam a tokenização de ativos e a modernização dos sistemas de pagamento.
Instituições financeiras tradicionais já exploram o potencial da blockchain para tornar suas operações mais ágeis e seguras. Um exemplo é o BNY Mellon, maior banco custodiante do mundo, que está testando depósitos tokenizados para modernizar sua infraestrutura global de pagamentos — responsável por movimentar trilhões de dólares diariamente. A meta é alcançar liquidação quase instantânea e redução das etapas de reconciliação, tornando as transações mais rápidas e transparentes.
A tokenização também avança em outros setores. A representação digital de ativos reais (Real World Assets – RWA), como imóveis, obras de arte e commodities, permite propriedade fracionada, liquidez ampliada e negociação 24 horas por dia, 7 dias por semana — algo inimaginável no sistema financeiro tradicional.
Bancos centrais, Bitcoin e o futuro do dinheiro
A convergência entre finanças tradicionais e cripto chega até os bancos centrais. Um relatório recente do Deutsche Bank sugere que Bitcoin e ouro poderão compor os balanços dos bancos centrais até o final da década.
Embora essa hipótese ainda pareça distante, ela reflete uma mudança de paradigma: o reconhecimento dos ativos digitais como potenciais reservas estratégicas de valor. Para as autoridades monetárias, essa diversificação pode servir como proteção diante de um ambiente macroeconômico incerto e cada vez mais digitalizado.
O cenário brasileiro e a integração global
No Brasil, a discussão sobre stablecoins e sua integração com o sistema financeiro ganha relevância diante do avanço do Drex (Real Digital) e da regulamentação de criptoativos. O país se posiciona como referência na construção de um sistema financeiro híbrido, onde moedas digitais, stablecoins e ativos tokenizados coexistem com o dinheiro tradicional.
A adoção crescente das stablecoins pela população e o interesse de instituições financeiras em explorar depósitos e pagamentos tokenizados sinalizam um movimento irreversível rumo à modernização e à inclusão financeira digital.
Conclusão
O futuro das finanças é digital, descentralizado e interconectado. As stablecoins não são uma tendência passageira, mas instrumentos centrais na transformação do dinheiro. Para investidores e instituições, acompanhar essa revolução — e entender seu impacto sobre o sistema financeiro — é essencial para prosperar na nova economia global.